terça-feira, 30 de setembro de 2008

Literatura de latrina: a vida alheia em destaque.

São Paulo, 25 de setembro de 2008. “Quero que todos os paparazzi morram”, diz Murilo Benício, em reportagem para Ana Carolina Moura, do Portal Terra. No lançamento dos novos produtos Givenchy, no hotel Fasano, em São Paulo, o ator destacou que se sente incomodado ao ser fotografado em seus momentos de folga. "Eles são uma facção e essa perseguição é muito chata" – completa Benício. O intérprete do vilão Dodi, de A Favorita, afirmou que tem vontade de bater nesses profissionais, mas que passou a entender a ignorância das pessoas. Para ele, a solução para acabar com os paparazzi no Rio de Janeiro é uma lei que preserve a privacidade das pessoas.

Será que estampar capas de revistas de novelas incomoda o Senhor Benício? É claro que não, afinal, trata-se da promoção do seu trabalho como artista. A publicação que o mantém na mídia é, muitas vezes, escrita por esses profissionais que ele considera chatos e inconvenientes. Primeiro: jornalismo de entretenimento é um mercado rentável. Pode até ser marginalizado pela sua sindicância, mas ainda assim gera muitos empregos e move interessantes negócios. Segundo: privacidade é uma moeda de troca. A partir do momento em que você expõe sua imagem, tem que estar ciente de que a mesma será explorada, para o bem e para o mau.

Outra celebridade que não lida nada bem com os paparazzi é Carolina Dieckmann. A atriz, por algumas vezes, assumiu sua arrogância com a imprensa quando abordada fora do ambiente de trabalho. A intolerância da estrela gerou, inclusive, um processo contra a RedeTV!. Carolina entrou na Justiça contra a emissora depois que os personagens Vesgo e Silvio, do Programa Pânico na TV, levaram um guindaste para a frente de seu prédio e filmaram seu filho Davi no apartamento quando ela não estava em casa. Na ocasião, os apresentadores tentavam convencê-la a calçar as ''Sandálias da Humildade''.

Em comunicado oficial para a imprensa, a Rede TV! revelou que foi condenada a pagar R$ 35 mil à atriz e que esse valor já foi depositado em juízo. Dieckmann, em matéria publicada no Diário da Manhã On-Line (11/09/08) explicou o motivo de ter tomado a atitude de processar o programa: “Minha maior recompensa será nunca mais ver alguém ser humilhado, por eles ou por quem quer que seja”.

Ter a vida pessoal invadida realmente é bastante incômodo. Qualquer atitude, por mais boba que possa parecer, pode tomar proporções monstruosas, passíveis a inúmeras interpretações e a milhares de julgamentos. O artista passa a ser vigiado, suas atividades cotidianas monitoradas e sua intimidade exposta. Como em qualquer meio, o jornalismo de entretenimento tem seus bons e maus profissionais. Há também aqueles que sequer tem o diploma. Sem falar dos oportunistas. Hoje, qualquer idiota com uma câmera na mão pode ser paparazzi.

O termo nasceu no filme La Dolce Vita, de Federico Fellini, lançado em 1960. Havia um personagem chamado Paparazzo (Walter Santesso), um fotógrafo. A palavra “paparazzo”, em italiano, significa moscardo, uma espécie de mosca irritante. Nos últimos tempos, a função foi se valorizando e hoje rende excelente faturamento. Os profissionais da agência X-17, a maior de Hollywood dedicada à bisbilhotagem, recebem de R$ 1.300 a R$ 5.000 por semana.

Saber de todos os detalhes do casamento da Sandy não leva ninguém a lugar algum. O mesmo acontece com as discussões acerca do Big Brother Brasil. Trata-se, contudo, de um conteúdo que jamais se propôs ser educativo ou denso. Quem lê fofoca está em busca de diversão. Portanto, deixem que os hipócritas, que dizem só ler política e economia, critiquem o jornalismo de entretenimento. São os mesmos que tem no banheiro de suas casas revistas de sociedade e de celebridades No calor do trono, contudo, toda cultura tem seu valor, mesmo que seja para servir de papel higiênico.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Os ídolos e os babacas.

“Brasileiro é um povo solidário. Mentira. Brasileiro é babaca.” – diz Arnaldo Jabor em um texto áspero, enviado para milhares de e-mails. O jornalista, em depoimento a CBN Diário, em agosto de 2007, defendeu-se, negando a suposta autoria. Tratava-se, portanto, de mais um dos inúmeros ensaios atribuídos a escritores famosos para tentar ganhar credibilidade e a partir daí se espalhar pela Internet como um vírus de computador. É a infecção da falsa informação.

O brasileiro é oras solidário, oras ingênuo. Somos uma nação emotiva e, muitas vezes, trouxa. Nem pretendo entrar no mérito da questão política e ideológica do poder e da dominação. Assim como muitos compatriotas, mantenho minha conduta apolítica, preso a uma ignorância consciente, a qual não me orgulha nem um pouco. Vou me ater à minha área de formação: a televisão. Sendo assim, volto ao princípio desta discussão: o brasileiro é, criticamente, babaca?

Falar de Big Brother e discutir nosso caráter de julgamento daria uma extensa tese, afinal, entender os motivos que fazem os telespectadores eleger um participante em detrimento de outro envolve uma ampla discussão psicológica. Por isso, vou deixar este reality comportamental para um outro ensaio e analisar outro programa: o Ídolos.

Em sua terceira temporada no Brasil, a atração, em exibição pela Rede Record, vem alcançando índices interessantes, em torno dos 13 pontos. Na fase de audição, a edição mostrou-se leve, descontraída e bastante ritmada. Aos poucos, os jurados conquistaram o seu espaço, apesar das comparações com o quarteto da versão do SBT.

Na etapa do teatro, Ídolos eliminou os candidatos bizarros e as atenções voltaram-se para o comportamento e o desempenho dos participantes. A soberania da escolha permanecia nas mãos de Paula Lima, Marco Camargo e Luiz Calainho. Até então tínhamos um programa, se considerarmos o aspecto musical a que se propõe, justo. Agora, na fase das eliminatórias, o poder de decisão está na mão dos telespectadores. E é aí que tudo desanda. Os critérios deixam de ser profissionais e passam a ser afetivos. O público passa a votar à revelia do talento musical: por beleza, por piedade, por simpatia, por pena. Com isso, o resultado sai distorcido e nem sempre os melhores são eleitos. E a audiência vai se esvaindo ralo abaixo.

Nas duas primeiras edições, dezenas de injustiças foram cometidas, fazendo com que os próprios jurados questionassem a escolha popular. Participantes de peso foram excluídos, não por rejeição, mas por esquecimento. Por compaixão, muitos candidatos permaneceram no programa e seguiram em frente. Tudo isso pode até ser considerado fútil, afinal, qual a relevância de um reality show para uma sociedade? Esse questionamento, entretanto, evidencia o quanto o brasileiro é influenciável e apresenta a fragilidade do critério de julgamento da população.

Nos países desenvolvidos, Ídolos cumpre com seu objetivo e cria verdadeiros fenômenos pops. No Brasil, poucos são os talentos provindos de programas de TV que se destacam na mídia e na indústria fonográfica. Nesta hora, o povo, solidário, escolhe pela emoção e torna-se estúpido. Posso estar falando apenas de um reality show. Esta metáfora, contudo, permite uma boa reflexão, em especial no momento de decisão democrática que o país atravessa. Musical e politicamente, o mercado está infestado de pragas. E cada um ouve o que merece. Depois só não pode ficar ofendido quando for taxado de babaca.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Dramaturgia em crise: a maldição do licenciamento.

A fase água com açúcar da dramaturgia da Band está com os dias contados. Depois de Floribela, Dance Dance Dance e Água na Boca, a emissora realizou uma pesquisa para saber o que o público feminino espera ver nas novelas da casa. O resultado mostrou que a maioria quer tramas com mais ousadia e atrevimento. Empolgada com sucesso da reprise de Pantanal, cujo importante ingrediente é o cenário rural associado à sensualidade, a Band comprou os direitos de adaptação de Passión de Gavilanes, romance colombiano produzido pela Telemundo, Caracol Televisión e RTI.

Inversamente proporcional aos investimentos na dramaturgia nacional, a criatividade dos enredos enfrenta uma séria crise de conteúdo. Até mesmo a Record, que passou a investir pesado na produção brasileira, viu-se tentada com a possibilidade de expandir a exportação de suas novelas: assinou um acordo com a rede mexicana Televisa para adaptação de obras de sucesso mundial, como Rebelde. O mesmo recurso já foi utilizado pela Band, que importou da Argentina os direitos de Floribela e obteve excelente faturamento, além do licenciamento de dezenas de produtos.

Depois de amargar baixos índices de audiência com a insossa Água na Boca, a Band aposta suas fichas em um investimento em que as prerrogativas não parecem muito otimistas: a produção nacional de mais um enlatado. Passión de Gavilanes, cujos direitos foram recém-adquiridos, já foi exibida pela RedeTV! com o título Paixões Ardentes. Em sua primeira exibição no Brasil, estreou com a responsabilidade de, ao menos, manter os números de Pedro, o Escamoso. O resultado foi desastroso. A obra, escrita por Julio Jiménez e dirigida por Rodrigo Triana, foi interrompida muito antes de concluir o seu ciclo previsto.

Na RedeTV!, o folhetim estreou em 29 de março e encerrou em 25 de junho de 2004, sem ao menos apresentar o desfecho dos personagens. O corte gerou a revolta dos telespectadores. Mais de cinco mil e-mails chegaram à emissora de Alphaville. Diante da baixa audiência, menos de 1 ponto, e da dificuldade de comercialização, a diretoria suspendeu irrevogavelmente a exibição de Paixões Ardentes.

A versão brasileira de Passión de Gavinales será adaptada por Ecila Pedroso e poderá suceder Água na Boca. O elenco está sendo escolhido pelo diretor Del Rangel. Segundo o site “Estrelando”, nas últimas semanas foi realizado um teste com 250 atores para a seleção dos protagonistas.

Das onze telenovelas atualmente em cartaz na Globo, SBT, Record, Band e CNT, cinco são inéditas, uma é remake e quatro são reapresentações. Para os próximos meses, estão programadas as gravações de Rebelde e Passión de Gavinales. Nos bastidores do SBT comenta-se que mais uma obra argentina poderá ser adaptada com atores brasileiros. Enquanto isso, novos talentos são podados, grandes autores aposentados e importantes acervos ressuscitados, como o arquivo radiofônico de Janete Clair, adquirido por Silvio Santos.

Chacrinha, ainda nos primórdios da teledifusão, postulou: “na TV nada se cria tudo se copia”. O Velho Guerreiro tinha toda a razão, mas os tempos mudaram e a globalização chegou. A moda agora é pagar pela adaptação. É a imitação sem culpa, cultuada, sem vergonha e de papel passado.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Tolerância zero: o planejamento do Reino da Anhangüera.


São Paulo, 26 de fevereiro: SBT anuncia a volta do programa “Aqui Agora”, uma atração popular intitulada “jornalismo verdade”. Na pauta, muito sensacionalismo, prestação de serviços e – é claro – algumas das excentricidades do Patrão. Um soco no estômago do jornalismo tradicional. Um formato bizarro, beirando o grotesco. Nos estúdios, um cheiro de naftalina.

Para a nova empreitada, quatro apresentadores foram escalados: Luiz Bacci, Christina Rocha, Joyce Ribeiro e Hebert de Souza, este último demitido alguns dias depois, por agredir um dos produtores do telejornal, durante um intervalo. A intenção da direção do SBT era elevar os índices da tarde utilizando as mesmas armas das emissoras concorrentes. A meta era audaciosa: atingir 10 pontos no IBOPE. Caso contrário, o telejornal estaria fadado ao cancelamento.

Os preparativos para a avant-première do telejornal envolveram um forte esquema de assessoria de imprensa. Nos correios eletrônicos dos principais veículos de comunicação, a emissora anexava fotos dos apresentadores, dos cenários, além do release da atração. As expectativas eram enormes. O programa parecia ser a solução das tardes do SBT. Na estréia, o primeiro baque: apenas 5,3 pontos na Grande São Paulo. Nas semanas seguintes, índices mostraram-se ainda menores. Nos bastidores, uma pressão desrespeitosa. Na tentativa de aumentar os números, os apresentadores Luiz Bacci e Joyce Ribeiro foram substituídos por Analice Nicolau e César Filho. Por fim, em 11 de abril, sem aviso prévio aos telespectadores, o SBT retirou o “Aqui Agora” da grade de programação. A ameaça estava cumprida.

Havia, de fato, uma meta a ser cumprida: audiência de 10 pontos. Questiono: havia objetivos? E o planejamento? As pesquisas e as avaliações dos primeiros resultados? Cadê a coerência nas ações? No império da Anhangüera, o Patrão acordou saudoso e resolveu ressuscitar os mortos. Depois viu que os moribundos não eram mais tão atraentes. Guardas, quero que os liquidem! – ordenou o monarca.

Televisão é hábito. Um costume que precisa ser trabalhado a médio e longo prazo. Não é de uma hora para outra que o telespectador vai mudar de canal. Trata-se de uma cultura arraigada na rotina do brasileiro. Primeiro vem “Malhação”, depois a novela das seis, o jornal local, a trama das sete, o jornal nacional e a novela das oito. É assim há décadas. O público sabe o que vai assistir. A RedeTV! é outra emissora que respeita sua grade: primeiro vem o “TV Fama”, depois o jornal, seguido do “Superpop”. E o SBT? Não é a toa que um dos vídeos mais populares da internet é o da jornalista do “SBT Brasil” se perdendo toda ao anunciar a próxima atração. Se nem mesmo os apresentadores da casa sabem a grade, imaginem os telespectadores.

Nesta segunda-feira, 01 de setembro, outra atração estreou no SBT, o “Olha Você”. Os bastidores e as expectativas do programa lembram a saga do “Aqui Agora”: muita pressão, a responsabilidade de salvar os índices da tarde e – o que considero mais desolador – o olhar atento do Patrão. Um fato muito grave, porque em breve a atração pode virar uma jogatina desenfreada. Não seria surpreendente ver Ellen Jabour falando ao telefone perguntando quantas azeitonas cabem em um pote gigante, nem mesmo Claudete Troiano girando uma roleta de valores inferiores a mil reais.

A estréia do “Olha Você” abocanhou apenas 3,49 pontos, segundo prévia do IBOPE. O SBT informou que não há meta de audiência especificada e que a idéia da emissora é primeiro emplacar o formato. Mesmo sem inovação alguma, a atração prima por um entretenimento mais elaborado, diferentemente do “Aqui Agora”, que apostou em uma prestação de serviço grosseira. Apesar da discrepância entre o conteúdo de ambos programas, existe a sensação de déjà vu, pelo menos em relação à expectativa dos resultados em audiência. A esperança é a última que morre. O patrão, contudo, já a executou friamente algumas vezes. Cabeças rolaram e o espaço ficou vago. Chamem o menino mexicano!

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