quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A fantástica morte de Silvio Santos.

Silvio Santos, 78 anos


Curto e grosso: e se Silvio Santos morresse esta noite? Sim, caro leitor, Senor Abravanel é um ser humano que, como todos de sua espécie, cumpre um ciclo vital. Se Michael Jackson desapareceu, outros ícones também podem perecer de um dia para outro. Reflitam: como seria, melhor dizendo, como será (porque fatalmente vai acontecer uma hora) o ritual de passagem do Homem do Baú? Qual será a postura da Rede Globo? Vale lembrar o episódio em que o apresentador foi o tema da Escola de Samba Tradição, transmitido pela emissora carioca, com profissionalismo e respeito. Como transcorrerá a rotina na sede da Anhanguera? Como serão os domingos sem Silvio Santos?


Listemos alguns fatos relevantes: Senor Abravanel é um senhor de 78 anos, um representante da melhor idade. Por mais lúcido que possa parecer, ele, assim como qualquer indivíduo da sua idade, tem limitações físicas. E que tendem a aumentar com o tempo. O fascínio pela figura que Silvio exerce, contudo, nos faz esquecer que, ali no palco, junto às colegas de trabalho, tem um homem quase octogenário.

A vitalidade de Silvio Santos é, de fato, impressionante, assim como o seu poder de virar notícia. Tudo isso preservando ao máximo a sua vida pessoal. Questionado pela revista Veja, em 2000, sobre a sua aposentadoria – e provável ausência nos negócios do Grupo, o apresentador foi taxativo: “Os executivos dizem que se eu parar o SBT regride, o Baú não vende. É tudo mentira. Os executivos falam isso porque eles ganham bônus e acham que as coisas são mais fáceis com o Silvio Santos lá, porque o Silvio Santos é um bom vendedor etc. Mas eu acho que o SBT não pode depender mais do Silvio Santos. A Globo não é sinônimo de Tarcísio Meira, Regina Duarte, Xuxa, Faustão. Da mesma forma, o SBT não tem de ser sinônimo de Silvio Santos, Hebe Camargo, Gugu ou Jackeline. O SBT tem de ser uma linha de produção. Se o artista convier ao SBT, ótimo. Se não, troca-se e não acontece nada com a emissora.”

Há alguns meses, o SBT sofreu um grande desfalque, a saída de Gugu Liberato para a Record. Muita gente – inclusive eu, que publiquei uma coluna sobre o assunto – questionou sobre o tamanho do estrago que essa transferência causaria à imagem da emissora. Eis que Silvio ressurge das cinzas e promove grandes contratações, provando a todos que a pipa do vovô ainda sobe. E que ainda há tesão pelo veículo impulsor de todos os negócios do Grupo.

Há alguns meses, o site O Fuxico, especializado em notícias de celebridades, divulgou, em 22 de maio, a morte de Silvio Santos. Segundo a notícia, o empresário teve fortes dores no peito durante a gravação o quadro Fale com a Maisa. “Levado para o Hospital Albert Einstein, ele faleceu”, afirma o texto. A nota, contudo, era falsa. O motivo: invasão hacker no servidor do site.

Boatos envolvendo a vida do patrão, entretanto, não são recentes e nem exclusivos do ambiente virtual. Há algumas décadas, circulava no Brasil uma publicação sensacionalista com a manchete de que Silvio Santos estaria careca. Outro episódio, ainda mais fatídico, foi a controversa entrevista concedida à Revista Contigo, que estampava, na capa, que o apresentador estava doente, com mais seis anos de vida, e que o SBT havia sido vendido para a Televisa e para o Boni.

A princípio, a própria revista suspeitou que Silvio Santos estava fazendo uma galhofa. Amparada judicialmente e com a entrevista gravada, a publicação inseriu as declarações do dono do SBT ipsis literis. A “pegadinha” teve a magnitude de uma bomba atômica e comprovou a podridão e a irresponsabilidade das “mídias das fofocas”. O site Cocadaboa, dias depois, afirmou ter inventado a história. Disse, ainda, ter arranjado uma pessoa com a voz similar à de Silvio Santos e ludibriado a revista Contigo. Outra sandice. Era mais um boato revertendo outro boato.

Tarde demais. A semente da discórdia estava plantada e a árvore da desinformação em plena reprodução. A cada minuto surgia uma versão nova, um desmentido, uma confirmação. “O ‘monstro’ saiu de nosso controle e assumiu vida própria. O falatório assumiu várias formas e acabou ficando irreconhecível até para nós.” - afirmaram os editores do Cocadaboa, em matéria publicada no site. “Toda a ‘mídia parasita’ ajudou. Criamos o assunto descartável para entreter as vidas vazias dos coitados que passam a tarde inteira assistindo televisão”.


Um fato é certo. Falar de Silvio Santos vende, gera notícias e boatos. E o mais cômico é que, por trás disso, tem um empresário fanfarrão, que alimenta muitas hipóteses e faz questão de estar da boca do povo. Talvez sua morte seja mesmo refletida de maneira apoteótica. Será a passagem do maior e mais popular profissional da comunicação brasileira.


Como será a sua vida sem o Silvio Santos? Eu mesmo não sei responder, mas tenho certeza que não vai passar batida. Uma coisa, contudo, eu tenho convicção: um dia ele vai partir desta para uma melhor. Também não duvido que peguem esta coluna e publiquem minha “previsão”. A visão do publicitário-mãe-dinah em letras garrafais: “SILVIO SANTOS VAI MORRER”. Não duvido mesmo. Tem otário pra tudo.