segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O tirano de Tirânia: a ditadura do Sr. Abravanel.

“Amor, trapaça, mentira, problemas sociais, ambição, humor e drama se misturam em Revelação, a nova novela do SBT” – eis a sinopse da trama escrita por Íris Abravanel. À primeira vista, um amontoado de clichês. Uma via segura de conduzir um enredo sem correr grandes riscos.

Ousadia incita precedentes para grandes acertos ou retumbantes erros. A novela Pantanal, por exemplo, fugiu completamente do ambiente urbano carioca ou paulista. Investiu em tomadas externas, em um ritmo mais lento e em takes cinematográficos. Fez história e consagrou-se um dos maiores sucessos da dramaturgia brasileira, mesmo fora do “padrão globo de qualidade”. Brida, obra de Paulo Coelho, novela também exibida pela extinta Rede Manchete, apostou em uma linha mística, fora do usual, com elementos fantasiosos. Resultado: fracasso e rejeição. Apostar em novos formatos tem seu preço. Por isso, muitos autores preferem o bom arroz com feijão em vez de pratos sofisticados. E Dona Íris Abravanel, novata, foi cautelosa e optou por um roteiro tradicional, pelo menos neste primeiro trabalho. Sábia decisão!

Quando soube que a esposa do Silvio Santos escreveria uma novela, pensei: o patrão surtou de vez. Suspeitei, inclusive, que seria um golpe de marketing para anunciar, de supetão, a contratação de um grande diretor. Ledo engano. Era verdade. Nada absurdo para um canal que ousou lançar seu principal telejornal com duas ex-participantes de reality-show. E o pior – ou o melhor – de mini-saias, em uma bancada de vidro. Experiência e sucesso não brotam instantaneamente. São lapidados. Cynthia Benini e Analice Nicolau que o digam. Mas para que tivessem seu esforço reconhecido, entretanto, tiveram que pagar o maior mico de suas vidas: ancorar o jornal das pernas.

Voltando à senhora Abravanel. É indiscutível a coragem da autora. Escuta-se nos bastidores – e de modo oficial pelos atores da novela – que a trama está muito bem articulada. É evidente que tal análise, vinda do próprio elenco, é suspeita e parcial. Há, contudo, fatos mais relevantes, como a boa avaliação do novelista Yves Dumont, que supervisiona de perto os textos de Íris. Outros importantes nomes colaboram no projeto: Henrique Zambelli, Simoni Boer, Rogério Garcia, Paulo Cabral e Lilian Viveiros. A direção-geral está nas mãos de Henrique Martins. De fato, Dona Íris conta com uma equipe experiente, com muitos quilômetros rodados em dramaturgia.

A sinopse da história mistura elementos envolventes, mas não traz inovação alguma: Lucas (Sérgio Abreu) e Victória (Tainá Müller), os protagonistas, se apaixonam em Lisboa. Ele volta ao Brasil sem saber que ela está grávida. Em Tirânia, cenário da trama, o rapaz recebe fotos forjadas que mostram a amada com outro. Com isso, passa a desprezá-la e se casa com a filha do prefeito. A novela terá ainda um misterioso personagem: oculto e manipulador. A revelação de sua identidade e objetivos, no final, justificarão o título da trama.

Revelação terá outros núcleos além do principal, fato que distancia a obra de Abravanel do modelo de dramaturgia mexicana. Uma favela e muitos conflitos sociais darão à trama novos ares, bem diferente do que foi visto nos últimos anos no SBT: história chorosa, enredo rocambolesco, maniqueímo e distância da realidade brasileira.

O elenco apresenta alguns nomes já conhecidos do público: Sérgio Abreu, Tainá Müller, Flávio Galvão e Talita Castro. Antônio Petrin e Elaine Cristina, que integraram o elenco de Pantanal, provavelmente estarão em cartaz simultaneamente em duas produções exibidas pelo SBT, uma atual e outra de dezoito anos atrás.

Internamente, a obra de Íris Abravanel já alimenta muita polêmica e discórdia. Com uma boa frente de capítulos gravada e escrita, a trama ainda não tem data para estrear, apenas especulações. O próprio Silvio Santos, em seu programa dominical, já fez piada sobre o assunto, dizendo que a novela vai entrar no ar somente quando ele estiver disposto. E o mais deprimente é que aquilo é a mais pura verdade.

Curiosamente, no SBT algumas novelas foram produzidas e demoraram a estrear. O Direito de Nascer, por exemplo, foi gravada em 1997 e exibida pela primeira vez na emissora somente após quatro anos, em 2001. Algo semelhante aconteceu com Pérola Negra, que só foi ao ar depois do término de suas gravações.

O fato de uma trama ter uma extensa frente de capítulos gravados e escritos pode se tornar um problema. Aqui no Brasil, as novelas são, em grande parte, obras abertas, passíveis a intervenções das pesquisas de opinião pública. Exibir um projeto fechado pode ser um tiro no pé, afinal, a reedição de capítulos torna-se inviável. A demora para estrear Revelação está irritando muitos atores. Após o término do contrato, muitos deles ainda terão suas imagens vinculadas à produção do SBT.

Depois de quase dez anos sem uma produção genuinamente brasileira, o SBT despertou, ainda que timidamente, o seu cambaleante departamento de dramaturgia. Sem grandes investimentos e alardes, Revelação pode estrear a qualquer momento. Por enquanto, a novela corre dentro da Anhangüera, com muita especulação e disse-que-disse. O mistério da data em que a trama vai ao ar talvez seja a maior “revelação” da obra de Íris Abravanel. Tudo pode acontecer. Talvez estreie depois do horário político. Talvez depois do término de Pantanal. Talvez tudo seja uma pegadinha do patrão. Talvez sim. Talvez não. Talvez!

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quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Fábrica de talentos: uma rápida análise do reality musical Ídolos.

Depois de muito disse-que-disse, especulações e ameaças judiciais, a Rede Record exibiu o primeiro episódio da nova temporada de Ídolos, versão brasileira do original britânico Idols, licenciado pela FremantleMedia. Na nova emissora, o formato manteve-se fiel à estrutura estrangeira, com três jurados e um apresentador. A adaptação, no entanto, ficou tão similar ao molde americano que até mesmo os estereótipos dos personagens foram absorvidos. No primeiro programa da temporada 2008 não faltaram caras e bocas. Para o trio que compõe o júri faltou o principal ingrediente: a complementaridade entre os envolvidos. Luis Calainho, um dos jurados, encarnou por completo o papel do produtor e empresário Simon Cowell. À primeira vista, antipático e bastante artificial.

Adaptações de versões estrangeiras no Brasil sempre suscitaram dúvidas: manter-se fiel às originais ou ajustá-las para a realidade local? O Big Brother Brasil, por exemplo, mostrou-se flexível com o passar dos anos. Apesar da rigidez das regras impostas no início do jogo, a edição foi se moldando de acordo com a preferência popular, tal qual um enredo de novela: uma obra aberta e passível à intervenção de pesquisas de aceitação pública. Outros formatos, entretanto, mantiveram-se rígidos, com pouca ou nenhuma adaptação, como o game Topa ou Não Topa, atualmente reexibido pelo SBT nas sextas-feiras.

Durante sua estada na emissora de Silvio Santos, nas temporadas 2006 e 2007, o programa Ídolos sofreu algumas intervenções. Apesar do formato ter sido mantido, a caractarização das figuras envolvidas mostrou-se espontânea e coesa. Em poucos tempo, Saccomani, Miranda, Cyz e Thomas tornaram-se o principal ingrediente do reality show. Nas etapas de audição, alguns jurados fizeram papel de carrasco e outros de mocinho. Com o andar do programa, no entanto, cada um assumiu a sua personalidade.

Desentusiasmada com a performance do formato no SBT, a FremantleMedia abriu negociações com a Record. Na Anhangüera, a decisão gerou surpresas e polêmicas. Após a perda oficial do Ídolos para concorrência, Silvio Santos arregaçou as mangas e ordenou, a toque de caixa, a produção de um programa similar, com apelo mais popular e ares de Show de Calouros. O resultado mostrou-se interessante. Exibido na linha do SBT Show, o reality Astros assumiu uma identidade popular – por vezes grotesca e bizarra – e vem alcançando bons índices de audiência, entre 08 e 09 pontos na Grande São Paulo.

Para a temporada de 2008, a Rede Record investiu US$ 12 mil (cerca de R$ 19,6 milhões) no programa Ídolos. Uma grande aposta, sem dúvida. Com uma estética alinhada ao modelo internacional e um belo trabalho gráfico, as edições estão ágeis e bem estruturadas. Rodrigo Faro, o apresentador, está bastante à vontade em cena. Sua afinidade com a interpretação e com a música lhe rendeu excelentes oportunidades de interação com os candidatos. Os jurados, por sua vez, dificilmente escaparão das comparações com o quarteto do SBT. À primeira vista pareceu que o trio não está alinhado. Ainda soa artificial. Os tradicionais “esculachos”, por vezes deixam de ser engraçados e tornam-se agressivos. Essa inadequação pode desagradar os telespectadores e colocar em risco o sucesso do programa.

A grande estréia do Ídolos na Record teve uma audiência ainda tímida, 11 pontos, ocupando a vice-liderança absoluta, contra 18 da Globo e 09 do SBT. Ainda é cedo para tecer qualquer previsão. O que ficou constatado, entretanto, é que este formato, aqui no Brasil, obtém seus melhores índices na etapa de audições. A partir daí a audiência começa a dispersar. Pelo menos foi o que aconteceu no SBT.

O Brasil tem algumas particularidades difíceis de explicar: Big Brothers viram celebridades em poucos dias (e tornam-se anônimos tão rapidamente quanto), mulheres frutas viram pautas nos programas de variedades e as músicas populares em destaque chafurdam do baixo para o baixíssimo nível. Até agora, escassos foram os casos de cantores revelados em realitys show que ganharam expressão nacional. Situação lamentável. Para nossos ouvidos, Crééééú.

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