quinta-feira, 23 de julho de 2009

O bê-á-bá do broadcasting: os hábitos de consumo.

Mylena Ciribelli, apresentadora do "Esporte Fantástico", recém-estreado.

Palavras de um grande diretor de comercialização e marketing, Álvaro Iahnig: “TV é hábito”. Sentença que ouvi exaustivamente durante os três anos que trabalhei em uma rede de televisão. Praticamente uma lavagem cerebral. O óbvio ululante do planejamento em broadcasting. Tão evidente e intuitivo, mas que alguns executivos parecem desprezar. O resultado do descaso: grades voadoras, programas que estréiam e são cancelados antes de completarem um mês no ar e – principalmente – um enorme desrespeito ao telespectador.

Criar e desenvolver hábitos de consumo são práticas que a Rede Globo adota – com sucesso - desde os anos 60. A conseqüência dessa sistematização é a notável fidelização de audiência que a emissora mantém, mesmo com o avanço das redes concorrentes. Dados do Painel Nacional de Televisão do mês de junho apontam para uma confortável liderança para a Vênus Platinada, com 16,8 pontos de média diária, ante 5,7 da Record e 4,9 do SBT.

A diferença da grade da Rede Globo para suas duas principais concorrentes é justamente a previsibilidade do que vai ao ar. Ou seja, o telespectador sabe qual será a próxima atração. Já está consolidada no consciente coletivo brasileiro a disposição da programação: Vale a Pena ver de Novo, Sessão da Tarde, Malhação, novela das seis, das sete, Jornal Nacional, novela das oito e linha de shows. É sempre assim, necessariamente nessa ordem. Experimente agora citar a do SBT ou a da Record.

A rede de Silvio Santos experimentou o dissabor de perder público devido às inconstâncias na programação. Uma estrutura tão volúvel que se tornou um mistério para o telespectador. O disse-que-disse tomou proporções maiores quando o patrão – em um dos seus espasmos criativos – resolveu fechar a assessoria de imprensa da casa, cerrando o contato com os formadores de opinião. Uma espécie de Ato Institucional: centralizador, ditador e insano. Tal postura deixou não somente o público perdido, mas também os funcionários do canal. Fato que rendeu um embaraçoso episódio no principal telejornal da emissora: a apresentadora, que deveria anunciar a atração seguinte, ficou embasbacada, sem imaginar o que ia ao ar. A produção tampouco. Quem salvou a cena foi o experiente Hermano Henning, que finalizou o assunto com um sorriso amarelo.

Ao que parece, Senor Abravanel aprendeu a lição. Hoje já dá para supor a programação noturna do SBT: linha de shows 1, telejornal, novela e faixa especial. Até quando a grade será mantida é uma incógnita, mas o homem do Baú dá indícios de que vai honrar a fórmula. A não ser que ele acorde com o dente doendo. Aí tudo pode mudar. Ou não. Vai saber.

No mesmo caminho está a Rede Record, cada dia mais inconstante. De acordo com a coluna Outro Canal, a emissora mudou a sua grade em São Paulo pelo menos 24 vezes num período de 57 dias. As alterações começaram em maio, quando Geraldo Luís deixou de apresentar o "Balanço Geral" paulista para dar lugar à edição carioca. Entre as reformas, houve também a ampliação do "Hoje em Dia" e mudanças no horário do "Domingo Espetacular" e do "Repórter Record" por conta da estreia de "A Fazenda", em 31 de maio. O caso mais recente foi o “Esporte Espeta...digo, Esporte Fantástico” que, em sua terceira apresentação, teve seu horário radicalmente corrompido, passando do meio dia para às 8h30.

Todas essas alterações repentinas expõem insegurança e imaturidade por parte dos executivos das redes de TV. Uma aflição desenfreada por resultados financeiros e comerciais que pode afetar um importante elemento desse negócio: a credibilidade. Diante de uma derrapada no Ibope, mais vale fazer como a Globo, que leva a temporada até o término do seu ciclo (mesmo que antecipado) para somente depois cancelá-la. A série “Tudo Novo de Novo” e a malfadada novela “Negócio da China” são alguns exemplos. O respeito, assim como nas relações pessoais, deve se refletir também profissionalmente. Essa perda pode ser irreparável. Pensando bem, agora entendo meu ex-diretor, quando bradava incansavelmente que TV é hábito. Uma repetição salutar para todos os departamentos. O bê-á-bá da administração, que muitas vezes se perde no meio do caminho.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Na velocidade da internet: uma rápida análise do Leitura Dinâmica.

Renata Maranhão


Água e azeite: eis a relação do jornalismo da RedeTV! com o restante da programação do canal. Chega a ser paradoxal. A mesma emissora que transmite uma grade chula, sustentada, sobretudo, por sensacionalismo, veicula também produtos exemplares. De fato há uma certa indissolubilidade nesta estrutura. Uma postura bastante saudável, visto que essa separação preserva e salvaguarda o departamento de comunicação social da casa. Hoje, em rede nacional, são transmitidos quatro telejornais: RedeTV News, É Notícia, Good News e as duas edições do Leitura Dinâmica, que apresenta os principais fatos do dia de forma rápida e concisa.

Exibida de segunda a sexta-feira, no fim de noite, a revista eletrônica da RedeTV! destaca-se por seus avançados recursos gráficos e cenários virtuais de última geração. Em pauta, notícias do Brasil e do mundo, política, números do mercado financeiro e curiosidades, acompanhados de uma dose de opinião. Tudo abordado de forma muito leve e agradável, com amplo espaço dedicado para a cultura e para o entrenimento.

O Leitura Dinâmica estreou em 21 de novembro de 1999, com a proposta de ser uma revista dominical. Em sua primeira fase teve a apresentação de Milton Jung. Na época, contava com a participação de Daniel Piza, que mantinha uma coluna de críticas. A aceitação do público ao formato inovador fez com que a atração passasse a ser diária em outubro de 2001. Assim, ganhou reforços na equipe de produtores e editores e uma nova apresentadora, Rita Lisauskas. Na seqüência, vieram Cláudia Barthel e, a partir de janeiro de 2004, Renata Maranhão, que ocupa o posto até hoje.

Em 2008, o Leitura Dinâmica ganhou uma versão matutina, ancorada inicialmente por Cristina Lyra e, posteriormente, por Cláudia Barthel. Sucesso de crítica, o programa também é um êxito comercial. Configura-se como o quinto maior faturamento da RedeTV! e como a marca mais desejada da emissora, na opinião do mercado.

O título da revista eletrônica remete à proposta da leitura dinâmica, um método que consiste basicamente na assimilação das frases de forma rápida e clara, mantendo o entendimento apesar da velocidade. O formato lembra a estrutura textual da Internet, concisa e direta. Tal característica atrai, sobretudo, as classes mais privilegiadas, com acesso à tecnologia.

Na pauta, além das notícias breves, há também espaço para o entretenimento: moda, personalidades, cinema, artes, divertimento eletrônico e internet. Neste aspecto, o jornalístico inova ao abordar música alternativa e novas mídias para pessoas que entendem do assunto, sem subestimar a inteligência do telespectador. Por isso, diferencia-se dos jornais tradicionais, que investem em pautas pasteurizadas e de “interesse comum”. Para os editores do Leitura Dinâmica, o receptor não é um “Homer Simpson”. Há uma preocupação formal e estética com o conteúdo, sem melindres de se enquadrar como uma atração segmentada.

Na contra-mão dos produtos rasos da RedeTV!, o Leitura Dinâmica é uma escola quando o assunto é entretenimento cultural. Uma prova de que é possível desenvolver uma pauta de qualidade, sem envolver gastos exorbitantes e nem apelar para a baixaria ou para o sensacionalismo barato. De fato, há um abismo cultural entre a divisão de jornalismo do canal e o restante da programação. Um departamento com anticorpos que resistem a uma grade doente, infectada por atrações religiosas de quinta categoria, tele-vendas e programas de fofocas que sequer cutucam nossas mentes a alguma atividade cerebral. Pensando bem, que continue assim. Cada um no seu quadrado.