São Paulo, 26 de fevereiro: SBT anuncia a volta do programa “Aqui Agora”, uma atração popular intitulada “jornalismo verdade”. Na pauta, muito sensacionalismo, prestação de serviços e – é claro – algumas das excentricidades do Patrão. Um soco no estômago do jornalismo tradicional. Um formato bizarro, beirando o grotesco. Nos estúdios, um cheiro de naftalina.
Para a nova empreitada, quatro apresentadores foram escalados: Luiz Bacci, Christina Rocha, Joyce Ribeiro e Hebert de Souza, este último demitido alguns dias depois, por agredir um dos produtores do telejornal, durante um intervalo. A intenção da direção do SBT era elevar os índices da tarde utilizando as mesmas armas das emissoras concorrentes. A meta era audaciosa: atingir 10 pontos no IBOPE. Caso contrário, o telejornal estaria fadado ao cancelamento.
Os preparativos para a avant-première do telejornal envolveram um forte esquema de assessoria de imprensa. Nos correios eletrônicos dos principais veículos de comunicação, a emissora anexava fotos dos apresentadores, dos cenários, além do release da atração. As expectativas eram enormes. O programa parecia ser a solução das tardes do SBT. Na estréia, o primeiro baque: apenas 5,3 pontos na Grande São Paulo. Nas semanas seguintes, índices mostraram-se ainda menores. Nos bastidores, uma pressão desrespeitosa. Na tentativa de aumentar os números, os apresentadores Luiz Bacci e Joyce Ribeiro foram substituídos por Analice Nicolau e César Filho. Por fim, em 11 de abril, sem aviso prévio aos telespectadores, o SBT retirou o “Aqui Agora” da grade de programação. A ameaça estava cumprida.
Havia, de fato, uma meta a ser cumprida: audiência de 10 pontos. Questiono: havia objetivos? E o planejamento? As pesquisas e as avaliações dos primeiros resultados? Cadê a coerência nas ações? No império da Anhangüera, o Patrão acordou saudoso e resolveu ressuscitar os mortos. Depois viu que os moribundos não eram mais tão atraentes. Guardas, quero que os liquidem! – ordenou o monarca.
Televisão é hábito. Um costume que precisa ser trabalhado a médio e longo prazo. Não é de uma hora para outra que o telespectador vai mudar de canal. Trata-se de uma cultura arraigada na rotina do brasileiro. Primeiro vem “Malhação”, depois a novela das seis, o jornal local, a trama das sete, o jornal nacional e a novela das oito. É assim há décadas. O público sabe o que vai assistir. A RedeTV! é outra emissora que respeita sua grade: primeiro vem o “TV Fama”, depois o jornal, seguido do “Superpop”. E o SBT? Não é a toa que um dos vídeos mais populares da internet é o da jornalista do “SBT Brasil” se perdendo toda ao anunciar a próxima atração. Se nem mesmo os apresentadores da casa sabem a grade, imaginem os telespectadores.
Nesta segunda-feira, 01 de setembro, outra atração estreou no SBT, o “Olha Você”. Os bastidores e as expectativas do programa lembram a saga do “Aqui Agora”: muita pressão, a responsabilidade de salvar os índices da tarde e – o que considero mais desolador – o olhar atento do Patrão. Um fato muito grave, porque em breve a atração pode virar uma jogatina desenfreada. Não seria surpreendente ver Ellen Jabour falando ao telefone perguntando quantas azeitonas cabem em um pote gigante, nem mesmo Claudete Troiano girando uma roleta de valores inferiores a mil reais.
A estréia do “Olha Você” abocanhou apenas 3,49 pontos, segundo prévia do IBOPE. O SBT informou que não há meta de audiência especificada e que a idéia da emissora é primeiro emplacar o formato. Mesmo sem inovação alguma, a atração prima por um entretenimento mais elaborado, diferentemente do “Aqui Agora”, que apostou em uma prestação de serviço grosseira. Apesar da discrepância entre o conteúdo de ambos programas, existe a sensação de déjà vu, pelo menos em relação à expectativa dos resultados em audiência. A esperança é a última que morre. O patrão, contudo, já a executou friamente algumas vezes. Cabeças rolaram e o espaço ficou vago. Chamem o menino mexicano!
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