quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Fábrica de talentos: uma rápida análise do reality musical Ídolos.

Depois de muito disse-que-disse, especulações e ameaças judiciais, a Rede Record exibiu o primeiro episódio da nova temporada de Ídolos, versão brasileira do original britânico Idols, licenciado pela FremantleMedia. Na nova emissora, o formato manteve-se fiel à estrutura estrangeira, com três jurados e um apresentador. A adaptação, no entanto, ficou tão similar ao molde americano que até mesmo os estereótipos dos personagens foram absorvidos. No primeiro programa da temporada 2008 não faltaram caras e bocas. Para o trio que compõe o júri faltou o principal ingrediente: a complementaridade entre os envolvidos. Luis Calainho, um dos jurados, encarnou por completo o papel do produtor e empresário Simon Cowell. À primeira vista, antipático e bastante artificial.

Adaptações de versões estrangeiras no Brasil sempre suscitaram dúvidas: manter-se fiel às originais ou ajustá-las para a realidade local? O Big Brother Brasil, por exemplo, mostrou-se flexível com o passar dos anos. Apesar da rigidez das regras impostas no início do jogo, a edição foi se moldando de acordo com a preferência popular, tal qual um enredo de novela: uma obra aberta e passível à intervenção de pesquisas de aceitação pública. Outros formatos, entretanto, mantiveram-se rígidos, com pouca ou nenhuma adaptação, como o game Topa ou Não Topa, atualmente reexibido pelo SBT nas sextas-feiras.

Durante sua estada na emissora de Silvio Santos, nas temporadas 2006 e 2007, o programa Ídolos sofreu algumas intervenções. Apesar do formato ter sido mantido, a caractarização das figuras envolvidas mostrou-se espontânea e coesa. Em poucos tempo, Saccomani, Miranda, Cyz e Thomas tornaram-se o principal ingrediente do reality show. Nas etapas de audição, alguns jurados fizeram papel de carrasco e outros de mocinho. Com o andar do programa, no entanto, cada um assumiu a sua personalidade.

Desentusiasmada com a performance do formato no SBT, a FremantleMedia abriu negociações com a Record. Na Anhangüera, a decisão gerou surpresas e polêmicas. Após a perda oficial do Ídolos para concorrência, Silvio Santos arregaçou as mangas e ordenou, a toque de caixa, a produção de um programa similar, com apelo mais popular e ares de Show de Calouros. O resultado mostrou-se interessante. Exibido na linha do SBT Show, o reality Astros assumiu uma identidade popular – por vezes grotesca e bizarra – e vem alcançando bons índices de audiência, entre 08 e 09 pontos na Grande São Paulo.

Para a temporada de 2008, a Rede Record investiu US$ 12 mil (cerca de R$ 19,6 milhões) no programa Ídolos. Uma grande aposta, sem dúvida. Com uma estética alinhada ao modelo internacional e um belo trabalho gráfico, as edições estão ágeis e bem estruturadas. Rodrigo Faro, o apresentador, está bastante à vontade em cena. Sua afinidade com a interpretação e com a música lhe rendeu excelentes oportunidades de interação com os candidatos. Os jurados, por sua vez, dificilmente escaparão das comparações com o quarteto do SBT. À primeira vista pareceu que o trio não está alinhado. Ainda soa artificial. Os tradicionais “esculachos”, por vezes deixam de ser engraçados e tornam-se agressivos. Essa inadequação pode desagradar os telespectadores e colocar em risco o sucesso do programa.

A grande estréia do Ídolos na Record teve uma audiência ainda tímida, 11 pontos, ocupando a vice-liderança absoluta, contra 18 da Globo e 09 do SBT. Ainda é cedo para tecer qualquer previsão. O que ficou constatado, entretanto, é que este formato, aqui no Brasil, obtém seus melhores índices na etapa de audições. A partir daí a audiência começa a dispersar. Pelo menos foi o que aconteceu no SBT.

O Brasil tem algumas particularidades difíceis de explicar: Big Brothers viram celebridades em poucos dias (e tornam-se anônimos tão rapidamente quanto), mulheres frutas viram pautas nos programas de variedades e as músicas populares em destaque chafurdam do baixo para o baixíssimo nível. Até agora, escassos foram os casos de cantores revelados em realitys show que ganharam expressão nacional. Situação lamentável. Para nossos ouvidos, Crééééú.

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