quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Os ídolos e os babacas.

“Brasileiro é um povo solidário. Mentira. Brasileiro é babaca.” – diz Arnaldo Jabor em um texto áspero, enviado para milhares de e-mails. O jornalista, em depoimento a CBN Diário, em agosto de 2007, defendeu-se, negando a suposta autoria. Tratava-se, portanto, de mais um dos inúmeros ensaios atribuídos a escritores famosos para tentar ganhar credibilidade e a partir daí se espalhar pela Internet como um vírus de computador. É a infecção da falsa informação.

O brasileiro é oras solidário, oras ingênuo. Somos uma nação emotiva e, muitas vezes, trouxa. Nem pretendo entrar no mérito da questão política e ideológica do poder e da dominação. Assim como muitos compatriotas, mantenho minha conduta apolítica, preso a uma ignorância consciente, a qual não me orgulha nem um pouco. Vou me ater à minha área de formação: a televisão. Sendo assim, volto ao princípio desta discussão: o brasileiro é, criticamente, babaca?

Falar de Big Brother e discutir nosso caráter de julgamento daria uma extensa tese, afinal, entender os motivos que fazem os telespectadores eleger um participante em detrimento de outro envolve uma ampla discussão psicológica. Por isso, vou deixar este reality comportamental para um outro ensaio e analisar outro programa: o Ídolos.

Em sua terceira temporada no Brasil, a atração, em exibição pela Rede Record, vem alcançando índices interessantes, em torno dos 13 pontos. Na fase de audição, a edição mostrou-se leve, descontraída e bastante ritmada. Aos poucos, os jurados conquistaram o seu espaço, apesar das comparações com o quarteto da versão do SBT.

Na etapa do teatro, Ídolos eliminou os candidatos bizarros e as atenções voltaram-se para o comportamento e o desempenho dos participantes. A soberania da escolha permanecia nas mãos de Paula Lima, Marco Camargo e Luiz Calainho. Até então tínhamos um programa, se considerarmos o aspecto musical a que se propõe, justo. Agora, na fase das eliminatórias, o poder de decisão está na mão dos telespectadores. E é aí que tudo desanda. Os critérios deixam de ser profissionais e passam a ser afetivos. O público passa a votar à revelia do talento musical: por beleza, por piedade, por simpatia, por pena. Com isso, o resultado sai distorcido e nem sempre os melhores são eleitos. E a audiência vai se esvaindo ralo abaixo.

Nas duas primeiras edições, dezenas de injustiças foram cometidas, fazendo com que os próprios jurados questionassem a escolha popular. Participantes de peso foram excluídos, não por rejeição, mas por esquecimento. Por compaixão, muitos candidatos permaneceram no programa e seguiram em frente. Tudo isso pode até ser considerado fútil, afinal, qual a relevância de um reality show para uma sociedade? Esse questionamento, entretanto, evidencia o quanto o brasileiro é influenciável e apresenta a fragilidade do critério de julgamento da população.

Nos países desenvolvidos, Ídolos cumpre com seu objetivo e cria verdadeiros fenômenos pops. No Brasil, poucos são os talentos provindos de programas de TV que se destacam na mídia e na indústria fonográfica. Nesta hora, o povo, solidário, escolhe pela emoção e torna-se estúpido. Posso estar falando apenas de um reality show. Esta metáfora, contudo, permite uma boa reflexão, em especial no momento de decisão democrática que o país atravessa. Musical e politicamente, o mercado está infestado de pragas. E cada um ouve o que merece. Depois só não pode ficar ofendido quando for taxado de babaca.

Um comentário:

Redação MTVA disse...

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